domingo, 28 de março de 2010

Realidade do agricultor, "Colono"

Essa é a pura REALIDADE!!!


MAS MUITO REAL

Anda circulando aí pela internet. O pior é que é tudo verdade...

CARTA DO ZÉ AGRICULTOR


PARA CONHECIMENTO, ATÉ QUANDO...............................

Carta do Zé Agricultor para Luis da Cidade
Por Fernando Sampaio


Luis, há quanto tempo!

Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado,
porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra né? O Zé
do sapato sujo? Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu
tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão por isso o
sapato sujava.

Se não lembrou ainda eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo
... hehehe, era
eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia
da noite, e com a caminhada até em casa, quando eu ia dormir já era
mais de meia-noite.

De madrugada o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por
isso eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra né, Luis?

Pois é. Estou pensando em mudar para viver ai na cidade que nem vocês.
Não que seja ruim o sítio, aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar
puro... Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus
amigos aí da cidade.

To vendo todo mundo falar que nós da agricultura estamos destruindo o meio
ambiente.

Veja só. O sítio do pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e
tive que parar de estudar) fica só a uma hora de distância da cidade.
Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter
porque não se pode fincar os postes por dentro de uma tal de APPA que
criaram aqui na vizinhança.

Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma
maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que
fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se
acabar. Se ele falou deve ser verdade né, Luis?

Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né?) contratei o Juca,
filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada,
salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou. Ele morava aqui
com nós num quarto dos fundos de casa.

Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do
sindicato e da Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca fosse
tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna,
e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui
não sabem os dias da semana ai não param de fazer leite. Ô, bichos aí
da cidade sabem se guiar pelo calendário?

Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca e disseram que o beliche
tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encumpridar uma
cama, só comprando outra né, Luis? O candeeiro eles disseram que não
podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que
ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca.

Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que
fazer parte do salário dele. Bom, Luis, tive que pedir ao Juca pra
voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos
sindicatos, pelo fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito
certo. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque
botou um chocolate no bolso no supermercado. Levaram ele pra delegacia,
bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para
acudí-lo.

Depois que o Juca saiu, eu e Marina (lembra dela, né? Casei.) tiramos o
leite às 5 e meia, aí eu levo o leite de carroça até a beira da estrada
onde o carro da cooperativa pega todo dia, isso se não chover. Se
chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu
jogo fora.

Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a
distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros. Disse
que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30
metros de distância do rio e ainda tinha que fazer umas coisas pra
proteger o rio, um tal de digestor. Achei que ele tava certo e disse
que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dias pra
fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que
vender os porcos as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as
vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não ai
mandar me prender, mas me obrigou a dar seis cestas básicas pro
orfanato da cidade. Ô Luis, ai quando vocês sujam o rio também pagam
multa grande, né?

Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a
água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo
protegido, com mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem
chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho
como os rios ai da cidade. A pocilga já acabou, as vacas não podem
chegar perto. Só que alguma coisa tá errada, quando vou na capital nem
vejo mata ciliar, nem rio limpo. Só vejo água fedida e lixo boiando pra
todo lado.

Mas não é o povo da cidade que suja o rio né, Luis? Quem será? Aqui no mato
agora quem sujar tem multa grande e dá até prisão.

Cortar árvore então, Nossa Senhora! Tinha uma árvore grande ao lado de
casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para
aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.

Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui
no Ibama da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal
vim fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram oito
meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo ai eu vi que o pau ia
cair em cima da casa e derrubei. Pronto! No outro dia chegou o fiscal e
me multou. Já recebi uma intimação do Promotor porque virei criminoso
reincidente. Primeiro foi os porcos e agora foi o pau. Acho que desta
vez vou ficar preso.

Tô preocupado Luis, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de
R$500 a R$20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for
multado eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender e ir morar
onde todo mundo cuida da ecologia. Vou para a cidade, aí tem luz,
carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazer nada errado, só falei
dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos.

Eu vou morar ai com vocês, Luis. Mas fique tranqüilo, vou usar o
dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira.
Aqui no sitio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta,
cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Ai é bom que vocês
e só abrir a geladeira que tem tudo. Nem dá trabalho, nem planta, nem
cuida de galinha, nem porco, nem vaca é só abri a geladeira que a
comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisar de nós, os criminosos
aqui da roça.

Até mais Luis.

P.S.: Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta em papel reciclado,
pois não existe por aqui, mas aguarde até eu vender o sítio.

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